Profissão: Dublê

Postagem por: Ramos Hung

A palavra dublê vem de dublar, que seria substituir a fala ou o corpo de um ator nos momentos necessários, visando resguardar suas condições físicas, sem deixá-lo correr riscos. Essas cenas onde é necessária a troca do ator pelo dublê geralmente são de atropelamento, quedas de escada, quedas de altura, corpo em chamas, lutas ou batidas de carro.

Isso não quer dizer que o dublê vá se machucar no lugar do ator, na verdade existe todo um treinamento e aprendizado de técnicas para fazer os chamados "stunts" sem que haja danos a integridade física do dublê. Ele sim está preparado para fazer aquela cena, enquanto o ator certamente se machucaria caso tentasse fazer a mesma coisa.

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"Sou 'Louco', mas não sou Burro"

Muitas vezes taxados errôneamente de: "sem noção", "malucos", "Jackass", "amantes do perigo" ente outros, o dublê é um profissional de ação que assim como qualquer outra pessoa sente medos e almeja superá-los. "Sou 'louco', mas não sou burro" frase de alguém conhecido por fazer suas próprias cenas de risco sem a necessidade de um dublê, sim, ele mesmo, o Jackie Chan.

A profissão exige do dublê muita dedicação, que assim como um atleta deve ter uma vida bastante regrada, evitando vícios como o fumo e a bebida e cuidando bem da alimentação. Além disso deve manter-se sempre em atividade, praticando seus "stunts" e condicionamento físico e, caso seja um dublê marcial, deve também estar em constante contato com as artes marciais.

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No Brasil...

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No Brasil existe a má distribuição da função dos dublês ou a atribuição que não correspondem a eles, em especial nas cenas de luta, o que vem me preocupando bastante, como o amante que sou do cinema ásiatico. Por isso, no geral, as atuais produções brasileiras tem uma péssima qualidade em suas cenas de luta. Acontece que para esse papel é necessário um dublê muito mais completo, e que realmente domine as artes marciais a algum tempo. Não adianta praticar 6 meses de kung fu e se achar apto a realização dessas cenas. Saber chutar ajuda, mas não é o suficiente. É necessário muito mais do que isso: trabalhar costantemente com coreografias de luta, realizar quedas que condizem com o golpe recebido, treinar velocidade, aprender a golpear sem machucar, trabalhar sempre com movimentos conjuntos, etc. São todas essas coisas que demoram anos para serem completamente dominadas.

A profissão em nosso país, por enquanto, ainda deve ser encarada apenas como hobbie, tendo em vista a falta de investimento em filmes e cenas de ação. É um mercado muito instável. Uma cena de corpo em chamas, por exemplo, sem custo de equipamentos, equivale a R$ 3.500, o que é pouquíssimo se considerado o risco e a periodicidade com que o dublê pega um trabalho desses. Fora que os seguros correm desses profissionais: "Pra eles não existe acidente, já que quem trabalha no ramo é consciente dos riscos."

Alguns "Stunts" (truques)

Aqui estou escrevendo sobre alguns stunts a título de curiosidade. Não nos responsabilizamos pela prática de nenhuma das técnicas aqui citadas. Executá-las de forma errada pode provocar fraturas, traumatismos e até mesmo a morte.

Garrafas de vidro

As garrafas de vidro utilizadas para quebrar nas cabeças dos dublês são feitas na verdade de um composto tão translúcido e brilhante quanto o vidro, mas que se fragmenta completamente a menor batida. O custo de cada uma dessas garrafas está em torno de 80 reais, tornando inviável a sua utilização em filmes independentes ou de baixo orçamento.

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Atropelamento

A cena do atropelamento depende tanto do motorista quanto do dublê que será atropelado, eles devem estar em completa sintonia. Caso o dublê se atraze por milésimos de segundo na hora de pular no capô do carro ele poderá ter suas duas pernas quebradas, ou até mesmo sofrer um acidente mais grave. Esse Stunt consiste em pular no capô do carro pouco antes de ser atingido, dando a impressão de que a batida foi real. Antes da colisão o motorista deverá frear, fazendo com que a frente do carro abaixe, facilitando a subida da "vítima".

Existem dois tipos de atropelamento:

- No primeiro o motorista freia bruscamente assim que atinge o dublê, fazendo com que ele saia rolando metros de distância a frente do carro. Em uma cena de filme esse possivelmente seria o caso de um atropelamento acidental, onde o motorista para o carro para prestar socorro.

- No segundo o motorista acelera o carro assim que ocorre a colisão, fazendo com que o dublê saia rolando pelo teto do carro até cair no chão. Esse seria o caso de um motorista que tem a intensão de matar, acelerando seu carro após a batida para não prestar socorro e nem ser identificado por terceiros, ou até mesmo pela vítima. Esse stunt é muito mais perigoso do que o primeiro e por isso deve ser feito por um dublê MUITO mais experiente, além de um motorista muito competente.
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Cenas de tiro

Nas cenas onde o dublê leva um tiro, ele carrega consigo uma bolsa de sangue artificial com um explosivo bem fraquinho, tipo uma espoleta, colocado estrategicamente no local onde a bala vai "atingí-lo". Nessas cenas existe um controle remoto que fica na mão do dublê, para ser acionado no momento do disparo, fazendo com que a bolsa de sangue estoure, dando a impressão de que o dublê foi realmente atingido pelo tiro.

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Quedas de Altura

Até 20 metros a proteção é feita com caixas de papelão, colchões e espuma. Para quedas menores, de 1º andar, só as caixas já são o suficiente. Já quedas muito altas, que chegam a ultrapassar 40 metros, não existe outro jeito de desfazer o impacto da queda se não com os grandes colchões de ar.
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.Quedas de Escada

.Para essas quedas deve existir uma sintonia entre o movimento e a distância de um degrau para o outro. Para os iniciantes os braços devem ser posicionados a frente do rosto em 90º graus e mantidos inertes até o fim da queda, evitando qualquer pancada na cabeça. Os mais experientes conseguem proteger o rosto, também usando os braços a frente, mas de forma menos evidente. O corpo deve estar completamente esticado, com os dedos dos pés voltados sempre para frente, protegendo os joelhos. E a queda é semelhante a um rolamento de lado, como quem rola em um tapete tentando apagar o corpo em chamas.

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Corpo em Chamas

Eis aqui o stunt que considero o mais trabalhoso, exceto pelas coreografias de luta. Aqui todo cuidado é pouco. Mais do que o preparo físico é exigido um equilíbrio piscologico e emocional muito grande do dublê que irá pegar fogo. A roupa utilizada nessa técnica é chamada "Nomex", após colocá-la deve-se passar o hidrogel no cabelo e em todo resto do corpo, fazendo com que ele chegue à zero graus. Muitos optam por usar também uma pincelada de cola de sapateiro nas costas, servindo como combustível. Devido a combustão do oxigênio esse Stunt não pode ser realizado em locais fechados, e até mesmo em lugares abertos todo cuidado é pouco, já que de uma hora para outra a chama pode mudar de direção, de acordo com o vento. Ao ser incendiando o dublê começa a se movimentar rapidamente para evitar que as chamas também o atinjam no rosto. Durante todo processo ele prende a respiração, para não ficar intoxicado com a fumaça. E toda equipe deve estar mobilizada para acudí-lo dentro de instantes, com extintores e cobertores molhados.

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Bem, essas são algumas das principais técnicas de dublagem. Minha intenção aqui foi de mostrar que não basta ter coragem para se tornar um profissional de ação, é preciso muito mais do que isso. Dedicação e perseverança são dois fatores principais muito importantes nesse ramo.

Atenção

Todas as informações contidas nesse site são de carater informativo, não nos responsabilizando pela prática de nenhuma das técnicas aqui apresentadas. Se feitas de maneira errada podem provocar fraturas, traumatismos e até mesmo levar a morte. Recomendamos que antes de iniciar qualquer prática desportiva você procure a orientação de um profissional da área.